Gastar com propagandas em tempo de eleição virou
uma regra. As despesas são exageradas. É preciso convencer o eleitor que pau é
pedra e que a recíproca também é verdade. Busca-se com “a queima do dinheiro” (do
ponto de vista do contribuinte perspicaz) moldar mentalidades, conquistar
simpatias, somar pontos na formulação de um consenso, na maioria dos casos, que
não condiz com a realidade existente. Logicamente tal disparate é resultado da
crença de que “mentiras repetidas várias vezes se tornam verdades”.
Há quem diga que as ingenuidades são fomentadas no
intuito de embaraçar a consciência do cidadão e atrapalhar a luta em torno do
avanço democrático. Nota-se a dificuldade de um povo em exercitar o senso
crítico frente a tantos apelos televisivos. Temos assim o aumento das
injustiças sociais. Mas até quando as pessoas de bem irão aceitar o descaso com
os recursos públicos utilizados de modo inadequado? A convicção mais profunda é
que o cidadão encontra-se saturado e anseia pela instauração de uma sociedade
mais justa e harmônica.
Impreterivelmente, com o passar dos anos, chegaremos
num estágio em que os desvios de verba pública não serão mais toleráveis. Sobre
a corrupção política, econômica e social Ferreira Gullar afirma: “... ela
caminha com pés de borracha nos campos de meu país". Ou seja, o que
mantém os “escorpiões do povo” é a certeza da impunidade e do esquecimento. Hoje
vivemos a novela “Cachoeira” e amanhã? Infelizmente muitos dos ocupantes de
cargos eletivos foram contaminados com o vírus do capitalismo exacerbado e não
conseguem perceber as repercussões de sua prática individualista e imoral. Com
isso, alimentam o “olho do furacão” e usurpam as oportunidades dos jovens que
sonham em realizar-se no âmbito profissional e pessoal. Pergunta-se, numa
sociedade interligada, pode o homem sozinho ser feliz?
Juntamente com essa indagação é contunde apartar-se
das influências imediatistas sem antes submetê-las a um longo processo de
investigação e amadurecimento. Entende-se que para uma visão mais ampla dos
problemas atuais seja preciso uma postura dialética, isto é, ir da realidade
para a teoria e vice-versa. Neste mote, enfatiza-se também a importância de se
ter um senso crítico diante de cada partido. Saber sua história. Suas bandeiras.
Compreender sua ideologia. Estes são alguns dos pressupostos para quem almeja
fazer política com os “pés no chão”. Vale pensar, ainda, na afirmação de
Leonardo Boff que diz: “os partidos partem”.
Karel Kosik escreve que “a realidade não se deixa conhecer
num simples olhar, caso assim fosse não haveríamos necessidade da ciência”. Assim
sendo, fica o desafio de examinarmos as propagandas formatadas. Refletir sobre
o dito e o feito. Por exemplo, o que pensar de administrações municipais que
não priorizam o asfaltamento em bairros de periferia onde os cidadãos/eleitores
nos dias de chuva convivem com o barro e nos dias de estiagem prolongada vivem
o drama dos levantes de poeira? Se a educação é importante, por que ao
contrário de Realeza, Foz do Iguaçu, Assis, Toledo/UTFPR, em Cascavel o IFPR continua
no campo da intencionalidade? E o que dizer do Restaurante Popular? Se isso é
administrar bem uma cidade, então, o que é uma administração ruim?
Literalmente, a dissecação do real não é uma tarefa
fácil. O “fetiche da mercadoria” é potente. A alienação social é premente. As “cortinas
de fumaça” se multiplicam. Por isso, talvez, a opção de muitos em viver “no país
das maravilhas de Alice”.